terça-feira, 15 de abril de 2008

Ídolos da História Tricolor: Tim


Elba de Pádua Lima, mais conhecido como Tim, paulista de Ribeirão Preto, nasceu no distrito de Rifaina em fevereiro de 1916. Aos 12 anos jogava no infantil do Botafogo local e três anos depois já estava no time principal, desbancando o antigo ídolo, o meia-esquerda Piquitote. Em 1934 foi para a Portuguesa Santista por 500 mil réis mensais e, mesmo jogando num clube modesto, mostrou futebol suficiente para chegar à Seleção Paulista.

Era um grande driblador e sua jogada mais temida era quando partia com a bola dominada para cima de seu marcador. Seu característico corte seco para os dois lados deixava os adversários sem ação. Mesmo num pequeno espaço, sua colocação em campo o transformava num terrível abridor de defesas, seus passes desnorteavam os zagueiros e sua presença diante do gol fazia dele um goleador implacável. Era um craque completo.

Foi campeão brasileiro em 1935 e chegou à Seleção Brasileira no ano seguinte, consagrando-se no Sul-Americano de Buenos Aires como "El Peón" - apelido que ganhou da imprensa argentina por conduzir o time "como um peão conduz a manada".

Trata-se de mais um integrante do time tricampeão do Campeonato Carioca em 1936, 1937 e 1938 pelo Fluminense, entre outros títulos que veio a conquistar por este clube.

Tim disputou a Copa do Mundo de 1938 na França. Na Copa acabou na reserva, pois a ala esquerda preferida dos cartolas (botafoguenses, na sua maioria) era formada por Perácio e Patesko. Segundo Leônidas da Silva, na França, Tim vencia também a concentração, pulando a janela do hotel para farrear.

Fluminense de 1941: Em pé: Malazzo. Norival. Spinelli. Capuano. Renganeschi. Afonsinho e o técnico Ondino Vieira. Agachados: Pedro Amorim. Russo. Tim. Romeu e Carreiro.

Na volta, Tim viveu o apogeu de sua carreira, ganhando o bicampeonato de 1940 e 41 e sendo um dos heróis do famoso Fla-Flu decisivo de 1941, inesquecível devido às bolas que os atletas tricolores chutaram para a Lagoa Rodrigo de Freitas, para garantir o empate de 2 x 2 que lhes daria ao título.

Tim foi ainda ao Sul-Americano de 1942 e dois anos depois, já beirando os 30, deixou sua vaga na Seleção para Jair da Rosa Pinto. Jogou em 1944 no São Paulo e no ano seguinte novamente no Botafogo. Do Olaria carioca foi-se juntar a argentinos famosos, como Di Stefano, Pedernera, Baez e Rossi no Eldorado colombiano em 1950. Em 1951, iniciou sua vitoriosa carreira de treinador no Bangu (onde foi posteriormente campeão em 1966), tendo depois treinado o Flu (campeão de 1964), Vasco (campeão de 1970), Flamengo, Coritiba, Botafogo, San Lorenzo da Argentina, São José (SP) e Internacional de Limeira (SP). Como treinador, foi um dos maiores estrategistas do futebol brasileiro.

Já como treinador, em Moça Bonita, teve o feeling de ver que na cidade paulista de Bauru raiava o maior astro de bola do mundo: Pelé. E Tim quis levá-lo para o Bangu, porém a família do futuro Rei não deixou. Como técnico, Elba às vezes era irônico. Um dia, fazendo peneira de candidatos, veio a ele um rapaz dizendo, para agradá-lo: "Não bebo, não fumo nem farreio". E Tim respondeu: "Pois você aqui vai aprender a fazer tudo isso".

Embora não fosse de falar dos colegas, há uma frase de Tim que define com acidez o atleta que o técnico Zezé Moreira havia sido: "Zezé cabeceava com os pés". Outra vem do escritor Luiz Eduardo Lages: após ouvir alguém falar que no estádio havia alambrado e vestiários, El Peón inquiriu: "E grama, tem?". Quando teve a confirmação, ele coseu com alfinete: "É só o que precisamos para jogar, o resto não interessa". Para Zizinho, Elba de Pádua Lima foi, disparadamente, o melhor técnico que apareceu no Brasil.

Esse treinador ainda cativaria os atletas na mesa, pois cozinhava bem - habilidade exercida com a mesma arte com que jogou e soube ensinar futebol. A culinária foi aprimorada graças à sua proverbial timidez, que o fazia fugir dos fãs, deixando-o em casa a ver a mãe e as irmãs (uma delas atendia pelo suave nome de Coréia) preparar as iguarias. Seu segredo era o tempero. E quem provou do que fez diz que a almôndega ao molho atraía tanto quanto a dobradinha. Daí, houve quem dissesse que Elba fora melhor cozinheiro que craque e treinador - um exagero desmedido, é claro.

Segundo os jornalistas Marcos de Castro e João Máximo, "seu melhor prato, entretanto, continuou sendo por muito tempo o futebol, servido todos os domingos à torcida do Fluminense". Sim, ele foi notável com os pés. E "o futebol faz parte da história particular de cada brasileiro da nossa época", dizia o poeta e cronista Paulo Mendes Campos, que jamais renunciou ao direito e ao prazer de sonhar com esse esporte, "por fidelidade à infância e por fidelidade ao orgulho inexplicável de ser brasileiro". No caso específico do El Peón, a sua bola era tanta que outra sumidade, Romeu Pellicciari - ressentido com a semifinal contra a Itália em 1938 -, revelou: "Se Tim tivesse jogado, nós ganhávamos". Nas três situações, portanto, são palavras abalizadas de quem sabe das coisas - e como.

Em 1982, foi treinador da seleção do Peru na Copa do Mundo.

Elba de Pádua Lima morreu no Rio em 7 de julho de 1984. Os seus legados ao futebol são a finta, a visão de jogo e o passe preciso, além da estratégia. A viúva herdou as duas filhas. E a História esta certeza de Domingos da Guia: "Eu nunca vi Tim errar".

Pelo Fluminense, este meia-apoiador, fez 71 gols em 226 partidas.

Tim comparava o futebol a um cobertor: "O futebol é como um cobertor: se você cobre a cabeça, descobre os pés; se cobre os pés, descobre a cabeça."

Fonte: Site do Fluminense, Wikipedia, "Os Artistas do Futebol Brasileiro" de Antonio Falcão

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